terça-feira

..sobre cafés, sofás e madrugadas

Passamos a noite grudados, tentando esquentar aquele frio maravilhoso que congelava nossos pés. Num ardil qualquer, dormimos muito bem. 
Um belo e amargo café de manhã foi o que nos despertou no dia seguinte, com os olhos fartos e o coração cheio, puro cheiro de pele, pele macia e cor de mel, quase morena. 
E na tarde deitados num sofá pequeno, amarrados e amassados, com camisetas antigas, cheirando o mesmo perfume. Vazio sem dor, apenas vazio, sem arrependimentos. Dormiu novamente nos meus braços, pura paixão, além disso só Deus sabe um dia, se aqueles olhos fartos serão meus. No céu da boca rosada, me fiz durante madrugadas e me enrolei novamente naqueles pés gelados. Costurei novamente o vazio de um amor num peito tão profundo, aqui entre nós, nada de separações. Puro pêlo, puro seio, puro cheiro pelo ar, pura paixão, além disso só Deus sabe um dia, se aquele coração cheio um dia será meu. 

segunda-feira




Totalmente perturbada perguntei se ele saberia como parar. Ele olha nos meus olhos e diz que não queria aquilo, e que não se sabe o que é uma pausa. A pausa... a pausa é como uma linha tênue que separa nossos corpos agora. É o ponto de parada, o ponto de fuga e o ponto de partida quando voltarmos. Na nossa única oportunidade. 

sexta-feira

boba
diz no meu ouvido
me diz o que é
aguça meu sentido
essas palavras que me deixam


quente
corre pro chuveiro
me chama pro que é
me da um beijo
essas palavras que me deixam


perdida
me abraça
e sente o que é
não é de graça
essas palavras que me deixam


repete
essas palavras que me deixam
invade e apenas diga
essas palavras que me deixam

segunda-feira

Pra quem se vê quente, quente cor, quente por ser, apenas.
Pra quem olhou estrelas e viu mais, mais ser, apenas.
O seu corpo pode explodir, sutilmente você se desfazer e quando perceber seus ossos fazem parte dos meus. Totalmente sem razão, sem lado frágil, sem prisão. Menina que se faz de alimento e finge que não repara, mas as marcas das mordidas não te deixa esquecer. Basta ser, apenas por ser. Sem gravidade, com mistério no corpo. E se vai aos poucos, de um dia a outro. E mostra  a pele crua, tende a cair, tem de entender. E tão somente corpo, sendo assim por apenas ser.

quarta-feira

(...) O teu cheiro surpreendeu-me pela delicadeza e pela névoa erótica. Encostei o meu braço ao teu e comecei a transpirar. Sentia uma vontade violenta de me desmoronar em ti.
Não, não era fazer amor. Fazer amor não existe, porra, o amor não se faz. O amor desaba sobre nós já feito, não o controlamos - por isso o sistema se cansa tanto a substituí-lo pelo sexo, coisa gráfica, aparentemente moldável. Também não era foder, fornicar, copular - essas palavras violentas com que tentamos rebentar o amor.
Como se fosse possível. Como se o amor não fosse exactamente essa fornicação metafísica que não nos diz respeito - sofremos-lhe apenas os estilhaços, que nos roubam vida e vontade.
Eu queria oferecer-te o meu corpo para que o absorvesses no teu. Para que me fizesses desaparecer nos teus ossos. (...)


Ines Pedrosa

segunda-feira

rangido

Uma fome, uma ânsia voraz que destroi mandíbulas inclinadas ao beijo. Enquantos os dentes rangem e procuram perfurar. Amor, alma sedenta, arrastando sem caminho.
Tão moça e já magoada, desventurada. Mas quase um mistério pra quem tenta ler.
Num passado de um peito torturado, o coração que continua clamando e a fome ávida apenas aumenta.
Suas palavras se perderam enquanto ela o perfurava com um olhar feroz tão frio como um inverno.

sábado

A porta continua entreaberta caso você volte para buscar o que esqueceu largado em toda parte desse quarto. Você deixou sua blusa desbotada, deixou alguns fios do seu cabelo, me deixou atordoada, me deixou com seu cheiro. Em cada linha que você tentou apagar, eu me imaginei ali, você descrevia detalhadamente, e apagava em seguida, um arrependimento. Ninguém poderia imaginar que íamos acabar assim. Você deveria voltar para buscar o que esqueceu em cima dessa cama, com pensamentos que nem deveriam estar. Você poderia voltar e levar com você o que restou daqui. Você poderia me levar com você.